Terminada a 26ª Conferência Anprotec, que contou com mais de 650 participantes de todos os Estados brasileiros e alguns estrangeiros, o Presidente da entidade, Jorge Audy, faz um balanço com relação aos debates ocorridos durantes os três dias de evento.
Para ele, ficou claro que o movimento de empreendedorismo inovador brasileiro está maduro o suficiente, “tanto é que ele está refletindo e se reestruturando para poder atuar dessa forma mais orgânica perante a sociedade, enxergando então a ampla gama de possibilidades de mecanismos de geração de empreendimentos e das áreas ou ecossistemas de inovação”, avaliou Audy.
Confira a entrevista:
Em diversos momentos da 26ª Conferência Anprotec foi debatida a necessidade de integração de esforços e colaboração entre diferentes atores do movimento para que o empreendedorismo inovador cresça e ajude também o país a passar pelo momento atual de crise econômica. Qual a sua opinião sobre isso?
A palavra “sinergia” traduz bem o que necessitamos na área de empreendedorismo inovador brasileiro. A discussão de como sair da crise no século 21 passa necessariamente pela inovação e empreendedorismo. E para fazer isso, precisamos nos unir muito mais. O Brasil é campeão em fragmentar tudo e o movimento do empreendedorismo inovador também sofre desse mal. Cada um quer sua caixinha, seu pedaço.
Não dá mais para enxergar a Anprotec tratando só de incubadoras. É preciso tratar de incubadoras e outros mecanismos de geração de empreendimentos, como aceleradoras, coworkings, outros arranjos, que no fundo tem em comum o fato de serem mecanismos de geração de empreendimentos. Além disso, também trabalhamos com os Parques, que na verdade podemos chamar de ecossistemas de inovação, que pode ser um Parque Tecnológico, um Parque Científico, um distrito de inovação, uma cidade inteligente (smart city).
Quando falo sobre sinergia é no sentido de trabalharmos juntos, em colaboração e não fragmentados. A grande tendência, tanto de mundo quanto local, é de tratarmos os mecanismos de geração de empreendimentos e os ecossistemas de inovação de uma forma mais orgânica, porque eles são parte de um todo. É difícil enxergar também um mecanismo de geração de empreendimento, seja qual for que não esteja dentro de um ecossistema de inovação.
Como o senhor avalia o papel da Anprotec na união desses ambientes e a importância da Conferência para que isso aconteça?
Bom, a temática da 26ª Conferência Anprotec foi exatamente essa: “Novos mecanismos e espaços de geração de empreendimentos inovadores”. Nós não somos uma entidade de incubadoras e parques, somos uma entidade que trata de uma temática de empreendedorismo inovador, envolvendo os diversos mecanismos de geração de empreendimentos, onde incubadora é um deles e dos ecossistemas de inovação, onde igualmente o parque tecnológico é um deles. Os movimentos que a Anprotec tem feito são no sentido de estabelecer um diálogo com entidades de outras áreas que têm atuações afins nesse cenário e tratarmos de atuar de uma forma conjunta, orgânica.
O senhor sentiu que os participantes da Conferência têm essa mesma vontade?
Sim. Existe hoje uma maturidade do movimento, até porque, muitas das nossas incubadoras estão vendo que são parceiras, têm muitas incubadoras nossas que estão montando coworkings e aceleradoras. A RAIAR, que é a incubadora que eu tenho no meu Parque, para dar um exemplo concreto, tem programas de aceleração e estamos montando um coworking, que é um espaço físico três vezes maior que o da incubadora. E tudo isso é RAIAR, é o mesmo conjunto de mecanismos de geração de empreendimentos.
Outro exemplo também é o Porto Digital. Dá para chamá-lo de parque? Não. O Porto Digital é uma transformação maravilhosa da cidade de Recife (PE). Ou seja, a noção inicial de Parques transborda as suas fronteiras. Aquela ideia de que parque é algo fechado, em uma área onde se passa um crachá para entrar, já era. O lócus dos parques são as cidades. Por isso, acredito sim que o movimento está maduro o suficiente, tanto é que ele está refletindo e se reestruturando para poder atuar dessa forma mais orgânica perante a sociedade, enxergando então a ampla gama de possibilidades, de mecanismos de geração de empreendimentos e das áreas ou ecossistemas de inovação.
A Conferência contou ainda com a presença do gestor do Tsinghua University Science Park (Tuspark), principal parque tecnológico da Ásia, Herbert Chen, que apresentou os modelos chineses e explicou que o objetivo do país é tornar-se uma potência da área. O senhor acha que o Brasil tem que se espelhar nesse exemplo?
Temos que aprender sim com as melhores experiências do mundo para criar o nosso modelo. Nós podemos aprender muito com o que acontece na Finlândia, Suécia, Inglaterra, Estados Unidos, China e em diversos lugares do mundo, mas temos que desenvolver um modelo brasileiro, ou seja, nosso modelo tem que ser construído por nós. O problema é que isso só se consegue desenvolver e implantar ao longo de décadas. No Brasil, cada vez que acontece uma troca de governo o país é refundado, e por isso não conseguimos ter uma perspectiva de tempo onde as coisas possam acontecer. Então estamos sempre voltando a redescobrir o Brasil. Os ecossistemas de inovação que nós temos hoje no Brasil mostram que sabemos como fazer, entretanto, temos que fazer em uma escala muito maior.
Três grandes programas de parcerias da Anprotec foram destaques aqui na Conferência. Foi lançada mais uma rodada do programa de aceleração e incubação de impacto, explanado sobre o Desafio Negócios e Biodiversidade e divulgado o resultado da chamada do Programa de Promoção da Economia Criativa. Qual a importância dessas parcerias?
A Anprotec vem, ao longo dos anos, desenvolvendo programas e projetos com parcerias que refletem bem as frentes que trabalhamos. O Programa Aceleração e Incubação de Impacto, por exemplo, que é focado no desenvolvimento social, uma nova dimensão da inovação e empreendedorismo social. Outro, o Desafio Negócios e Biodiversidade, trata da questão ambiental e ainda o Programa de Promoção da Economia Criativa, que entra na questão de parcerias entre as grandes empresas e startups, oferecendo oportunidades de crescimento para que essas startups nasçam de forma global e tenham um alto impacto em termos de crescimento e desenvolvimento na sociedade. Fora as ações institucionais, que são a aproximação com outras entidades, coworkings, aceleradoras e as próprias incubadoras sociais.
Já está decidido o tema da próxima Conferência: “Inovação e Empreendedorismo Transformando as Cidades”. Qual a relação que ele tem com as discussões que foram feitas na Conferência atual? Eles estão interligados de alguma fora?
Sim, sem dúvida estão interligados. O que trabalhamos nessa Conferência foi onde nós atuamos. Não atuamos com incubadoras, e sim com mecanismos de geração de empreendimentos, assim como não trabalhamos com Parques tecnológicos, mas sim com ecossistemas de inovação. No ano que vem nós iremos falar sobre o que é tendência no mundo hoje: o impacto nas cidades da questão da inovação e do empreendedorismo, ou seja, não mais a incubadora, aceleradora ou parque entendido como ambiente de inovação, mas a cidade inteira entendida como tal. O nosso lócus de atuação não é mais físico, mas conceitual no âmbito da cidade, o conjunto da cidade onde estamos inseridos.
Para finalizar, qual sua mensagem final para os participantes e envolvidos, um balanço do presidente da Anprotec?
A 26ª Conferência Anprotec foi muito especial. Ela proporcionou muita interação entre os associados e acredito que isso é a maior riqueza que uma entidade como a Anprotec pode oferecer aos seus sócios. Mais de 650 pessoas aqui em Fortaleza (CE), em um ambiente maravilhoso, uma cidade lindíssima. Três dias de muita interação, troca de ideias, projetos e parcerias entre os associados. Essa é a função de uma entidade: congregar, conectar pessoas, e essa conferência foi voltada para isso, além de ligar pessoas no nosso ecossistema com alguns estrangeiros para trazer um pouco de visão de fora.